quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Adeus Afeganistão. Olá escudo anti-missil


Cimeira de Lisboa deverá ser decisiva para a definição do plano de retirada do Afeganistão e implementação do escudo anti-missil na Europa.

A partir de sexta-feira, Lisboa recebe uma cimeira de dois dias da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na versão inglesa). Os 28 Estados-membros estarão maioritariamente representados pelos seus principais dirigentes políticos. Entre eles, Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos, pela primeira vez em Portugal.

A NATO é hoje o único bloco do mundo de cariz unicamente militar e o seu papel no actual contexto global é um dos eternos pontos em discussão. Da capital portuguesa devem sair linhas claras que apontem para uma redefinição estratégica que poderá levar ao reforço da matriz de manutenção da paz e segurança.

A interminável guerra no Afeganistão, naquele que foi o primeiro conflito da Aliança Atlântica fora da Europa, marcará, necessariamente, os trabalhos.

Dia 15, David Cameron foi categórico ao garantir que os militares britânicos deverão sair do Afeganistão até 2015. “Eu disse que as nossas forças de combate estariam fora do Afeganistão até 2015”, recordou o Primeiro-Ministro do Reino Unido, num discurso sobre política externa.

O chefe do governo de ‘sua Majestade’ foi mais longe e anteviu que “a Cimeira da NATO deve marcar o ponto de partida para a passagem de responsabilidades pela segurança para as forças afegãs".

Um dia mais tarde, Washington deu sinais idênticos. A intenção de DC será deixar o país asiático pronto para assumir a responsabilidade pela sua segurança em 2014. A confirmar-se, o plano será apresentado pelo presidente Obama no Parque das Nações, em Lisboa.


Escudo anti-missil


Outro assunto polémico estará em cima da mesa: a construção de um sistema continental de mísseis, projecto associado ao controverso escudo anti-missil há muito ambicionado pelos Estados Unidos.

Está-se “muito mais perto de um consenso do que alguma vez estivemos”, afirmou, a propósito, e já esta semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado.

O sistema de defesa transcontinental não é uma questão pacífica, em particular no oriente europeu, mas a crescente aproximação da Casa Branca ao Kremlin deixa adivinhar um entendimento a curto ou médio prazo, até porque os receios do mundo ocidental já não têm origem na Rússia.

O secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, considerou terça-feira que Medvedev sabe que a organização já não constitui qualquer ameaça para os interesses de Moscovo. “Estou convencido de que a Rússia também não é uma ameaça para nós”, acrescentou.

“Estou de acordo que devemos ser parceiros. Penso que a actual administração russa compreende que o futuro está na cooperação estreita com a União Europeia e com a NATO", declarou ao diário Kommersant.

A mira dos aliados está agora apontada a países como o Irão e a Coreia do Norte. A existência de arsenais nucleares nestes dois membros do “Eixo do Mal”, expressão do antigo presidente George W. Bush, é uma matéria sensível, à qual Estados Unidos e Europa não ficam indiferentes.

O processo está a avançar e em Maio, o Pentágono garantiu a primeira implantação de longo prazo de mísseis anti-balísticos na Europa, mais concretamente em Morag, na Polónia, a 35 quilómetros da fronteira russa. Um sinal de que a NATO precisa mais dos Estados Unidos, do que o contrário.

No velho continente, o Reino Unido e a França, que com Nicolas Sarkozy se reaproximou da Aliança, depois de quatro décadas de costas voltadas, assumiram a dianteira, secundados pela Alemanha de Merkel.

Paris e Londres juntaram-se e assinaram um pacto que permitirá a criação de uma força militar conjunta e a partilha de instalações nucleares de teste.

Num artigo publicado na imprensa do seu país, o secretário da Defesa britânico, Liam Fox, comentou: “Há muitas razões pelas quais a cooperação [com a França] faz sentido. Somos apenas duas potências nucleares da Europa”.

“Desde que o presidente Sarkozy chegou ao poder temos visto um renovado vigor na tentativa de juntar a Europa e a América numa parceria e cooperação”, regozijou-se Fox na antecâmara de um encontro político ao mais alto nível e que coloca os olhos do mundo em Portugal.

Expresso das Ilhas (Cabo Verde), 17 de Novembro de 2010