sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dilma Rousseff: A vitória de uma tecnocrata


Dilma venceu com 56,05 por cento dos votos, mas agora terá de justificar o voto de confiança e provar que percebe de política e não apenas de números.

Não será tanto pelo beijo que lhe mandou Hugo Chavez, mas o mundo está de olhos postos em Dilma Rousseff. Depois da vitória na segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, onde derrotou José Serra, a sucessora de Lula da Silva tem pela frente uma empreitada de maior dimensão: manter o Brasil na senda do desenvolvimento e prosseguir a afirmação do país enquanto nova potencial mundial.

As reacções imediatas foram de encorajamento. De Obama, a Ahmadinejad – e por aqui se vê como o país sul-americano é hoje consensual – os principais líderes políticos não quiseram deixar de saudar a terceira vitória presidencial consecutiva do Partido dos Trabalhadores (PT).

Sem grande surpresa, Dilma apressou-se, logo na segunda-feira, a garantir a continuidade das políticas de Lula e descartou a aplicação de medidas radicais para controlar o valor da moeda.

“Vou olhar com muito cuidado para as taxas de câmbio porque não creio que manipular resolva alguma coisa. Teremos um câmbio flutuante e reservas que permitem defendermo-nos das manipulações internacionais”, garantiu numa entrevista televisiva à rede Globo.

Antes, a presidente eleita já tinha advertido que o seu Governo vai actuar com “rigor” nas questões da taxa de câmbio de moeda e considerou não ser possível aplicar políticas do passado, como a desvalorização competitiva.

A futura inquilina do Palácio do Planalto lembrou que não poderá contar inicialmente com a robustez das principais economias e defendeu o fim do proteccionismo dos países ricos. “É necessário estabelecer no plano multilateral regras muito mais claras e mais cuidadosas”.

“Actuaremos firmemente nos fóruns internacionais com esse objectivo”, garantiu.

Por outro lado, após a oficialização da vitória, Rousseff reforçou que uma das metas do seu Governo será a erradicação da miséria e assumiu como um dos seus primeiros compromissos “honrar as mulheres brasileiras” e “valorizar a democracia” em todas as suas dimensões.

O voto feminino terá sido decisivo para garantir a eleição daquela que será a décima segunda mulher a chegar ao mais alto cargo da magistratura de um estado americano.

No discurso da vitória, Dilma reforçou também que não descansará “enquanto houver fome” no Brasil e pediu a ajuda de todos para que o país possa atingir os mais altos patamares do desenvolvimento: “esta ambiciosa meta é um apelo à nação. Peço, humildemente, o apoio de todos para superar este abismo que ainda nos separa de sermos uma nação desenvolvida”, afirmou aos seus apoiantes, antes de agradecer a Luís Inácio Lula da Silva o apoio manifesto.

“Ter a honra de seu apoio, o privilégio de sua convivência, são coisas que se guardam para a vida toda. Conviver durante todos esses anos com ele [Lula] deu-me a exacta dimensão do governante justo e do líder apaixonado pelo seu país”, assegurou.

A colagem a Lula ter-lhe-á garantido parte do bom resultado que conseguiu. Mas a aproximação ao ainda presidente implica que a imprensa internacional coloque a eleita na sombra do cessante.

O New York Times destacou que o actual perfil positivo do Brasil no cenário internacional “pode cair com Dilma, porque ela não possui o carisma de Lula e mostrou pouca inclinação para entrar nas arenas diplomáticas globais, em que Lula construiu um nome para si e para a nação".

Em França, o Le Monde avançou com os “benefícios do apoio de Lula da Silva”, escrevendo que é a “herdeira política era dada como vencedora devido ao crescimento espectacular” do Brasil.

Dilma Rousseff é mais técnica que política. A eleição presidencial foi a sua estreia numa disputa eleitoral e agora cabe-lhe mostrar serviço. Alguns analistas dizem que cumprirá apenas um mandato, abrindo caminho para o regresso do seu mentor, dentro de quatro anos.


Preparativos para o novo governo

À margem das especulações, a presidente eleita já começou a montar a sua equipa de transição. O primeiro passo foi chamar os aliados mais próximos para uma reunião privada, na última segunda-feira, e começar a discutir as primeiras medidas a serem tomadas.

Na reunião terão estado os seus coordenadores de campanha, o presidente do PT e o deputado José Eduardo Cardoso.

Ao que tudo indica, Paulo Bernardo, actual ministro de Lula, deverá transitar para o futuro executivo, assumindo o lugar de chefe da Casa Civil.



Expresso das Ilhas de 3 de Novembro de 2010

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